A horta da família Brasil

A severa estiagem enfrentada pelo agronegócio em Mato Grosso e outras regiões do país, tem gerado comemorações precipitadas por parte de alguns grupos, que torcem pelo fracasso do homem do campo. Porém, antes de festejarmos as dificuldades alheias, precisamos entender que campo e cidade são partes de uma mesma família chamada Brasil.

A família Brasil

Imagine uma numerosa família brasileira, onde cada integrante desempenha um papel diferente e importante. Por exemplo, o pai na construção civil, a mãe professora, o filho mais velho cuida da horta, a filha jovem ajuda nos afazeres domésticos e o caçula na escola. Parte da comida desta família vem da horta cuidada pela mãe e filhos. O excedente é vendido aos vizinhos, gerando uma renda extra que faz a família prosperar.

Porém, nem todos na família se apoiam. Após uma briga cotidiana por divergência de interesses, como acontece na maioria das famílias, alguns irmãos mais novos, por imaturidade ou falta de visão, menosprezam e torcem pelo fracasso dos que trabalham na horta. “Tomara que a plantação murche, pra eles aprenderem!“, desdenham e riem dos infortúnios causados pelas adversidades. De fato, com a estiagem, a produção familiar despenca. E os irmãos que torciam contra comemoram as dificuldades, sem perceber que o prejuízo na horta logo afetará o sustento de todos.

O irmão Agro

Bem, agora vamos entender um pouco o tamanho e maturidade desse irmão mais velho. O agronegócio abastece o prato de todo o brasileiro, urbano ou não, respondendo por cerca de 23% do PIB nacional (representa quase 1/3 do dinheiro gerado pela família Brasil). Fornece comida barata e gera bilhões em impostos para serem empregados em serviços públicos como: saúde, educação, segurança, infraestrutura urbana e programas de assistência social. Em 2022, o setor arrecadou R$ 790,51 bilhões, de um total de R$ 3,34 trilhões (segundo dados do Empresômetro). Somente com isso, podemos perceber que o Agro é parte vital da família Brasil.

Na cesta básica da população urbana, grande parte dos itens – como arroz, feijão, café, açúcar, óleo de soja, carnes e verduras – dependem diretamente da produção rural. O agronegócio ainda fornece matérias-primas para indústrias de alimentos, bebidas, têxteis e biodiesel, gerando milhões de empregos nesses setores. Direta ou indiretamente, você está conectado ao agronegócio.

O nosso país não apenas atende suas necessidades internas, mas se destaca como líder mundial em diversos setores agrícolas. Atualmente, o Brasil é o maior exportador global de soja, açúcar, café, suco de laranja, carne bovina, carne de frango, milho, celulose e fumo. Essa conquista é resultado da competitividade, inovação e sustentabilidade alcançadas pelos empresários e pesquisadores do setor. (E se você quiser conhecer mais sobre o agronegócio, acesse aqui mesmo diversos outros conteúdos interessantes)

Mas voltando ao tema principal dessa catarse, antes de comemorar a grave situação enfrentada pelo irmão Agro, devido à estiagem prolongada, saiba que isso pode acarretar diversos impactos negativos para as zonas urbanas como:

  • Queda na arrecadação de impostos e menor circulação de dinheiro, afetando o comércio e serviços urbanos;
  • Diminuição de empregos e renda relacionados direta e indiretamente com o setor do agronegócio, como transporte, armazenamento, processamento, etc;
  • Êxodo rural, com agricultores de pequeno porte buscando emprego nas cidades por não conseguirem renda no campo. Isso pressiona a capacidade de atendimento dos serviços públicos urbanos;
  • Aumento no custo de alimentos básicos como arroz, feijão e carnes, impactando mais fortemente a população em situação de vulnerabilidade;
  • Riscos de desabastecimento pontual de alimentos e inflação de preços, caso a quebra na safra de grãos, como a soja, seja muito grande;
  • Maior pressão sobre políticas assistenciais nas cidades para apoiar populações vulneráveis afetadas pela crise agrícola;
  • Possíveis protestos e manifestações que podem afetar o cotidiano urbano e gerar transtornos para a população em geral.

Portanto, uma safra agrícola frustrada por problemas climáticos, como a atual estiagem que assola a produção brasileira, inevitavelmente trará desdobramentos desagradáveis à todos nós. Comemorar isso é comemorar a própria infelicidade. É hora de apoiar o homem do campo, em vez de comemorar seu infortúnio. Que a solidariedade nos una como uma grande família, esta na hora de revermos alguns conceitos, refletir quem de fato trabalha em prol da coletividade. Somente com a união de todos construiremos uma nação verdadeiramente próspera e justa.

Lembre-se, o Brasil é uma grande família! E como diriam muitos na multidão “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte” (Titãs). De fato, que o Agro continue a prover nosso pão, para que tenhamos força para buscar “diversão e arte” bem alimentados.

Reconhecer a dimensão e importância do agronegócio é essencial para o futuro do país. Somos todos parte dessa grande família chamada Brasil.

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