Incêndios na Amazônia fragilizam relações comerciais do Brasil no exterior, avalia economista

Boca Raton/FL -A recente repercussão mundial sobre os incêndios e desmatamento na Amazônia devem trazer prejuízos ao Brasil muito além dos ambientais. As questões envolvendo a floresta brasileira, que estão sendo amplamente noticiadas no mundo inteiro, devem fomentar o lobby contra o acordo comercial entre a UE-cosul levou 20 anos de negociação para ser oficialmente anunciado. “O Governo Brasileiro deve movimentar-se rápido para resolver a questão”, avalia o economista e analista político brasileiro radicado nos Estados Unidos há mais de 30 anos, Carlo Barbieri.

No Brasil, as queimadas aumentaram 82% em relação ao mesmo período de 2018. Número de focos é o maior de janeiro a agosto em 7 anos. Se compararmos o mesmo período de janeiro a agosto – foram 71.497 focos neste ano, contra 39.194 no ano passado. Os dados são do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), gerados com base em imagens de satélite. Números que descredibilizam o potencial do Brasil em gerenciar a questão ambiental e agrária no país.

“Esta situação da Amazônia pode ajudar aqueles que são contra o acordo com o Mercosul a terem mais força no sentido de não assinarem o acordo final, causando prejuízo, logicamente, ao Brasil. A capacidade de o Governo brasileiro para gerenciar e resolver essa questão será decisiva para mostrar ao mundo e, principalmente aos países que não concordam com o acordo comercial UE-Mercosul, como a França, que o Brasil está pronto para gerenciar crises inesperadas e cuidar da própria casa. O Governo brasileiro precisa agir rápido para evitar o lobby e garantir a permanência do acordo”, pondera Carlo Barbieri, presidente do Oxford Group, empresa de consultoria brasileira nos EUA.

Prejuizos inestimáveis

Enquanto a Amazônia queima, além dos prejuízos ambientais irreparáveis, o Brasil assiste a um exorbitante prejuízo econômico das riquezas que a floresta detém – muitos inclusive desconhecidos pelas autoridades. “O Governo precisa atentar-se rapidamente a essa questão para evitar que o país perca ainda mais. O Brasil precisa conhecer o que existe na Amazônia, todas as riquezas e, sem dúvida, proteger este território”, avalia Carlo Barbieri.

Para o economista, se o Governo Brasileiro não demonstrar de imediato que consegue lidar com essa questão, o Brasil pode perder também o volume de investimentos estrangeiros. O país, que pela primeira vez desde 1998, ficou fora da lista de países confiáveis para se investir, de acordo com a Consultoria Internacional A.T Kearney, está em risco de ter a reputação internacional totalmente abalada.

Repercussão internacional

Considerando as queimadas na Amazônia como uma “crise internacional”, o presidente francês Emannuel Macron convocou os países membros do G7 para uma reunião emergencial neste fim de semana para discutir o assunto. No twitter, Macron afirmou “Nossa casa está queimando. Literalmente. A Floresta Amazônica – os pulmões que produzem 20% do oxigênio do nosso planeta – está em chamas. É uma crise internacional. Membros da Cúpula do G7, vamos discutir em dois dias este tema emergencial!”.

O secretário-geral da ONU também manifestou preocupação por meio do Twitter. Estou profundamente preocupado com os incêndios na Floresta Amazônica. No meio da crise climática global, não podemos permitir mais danos a uma fonte importante de oxigênio e biodiversidade. A Amazônia tem de ser protegida”, escreveu Guterres.

Boicote ao Brasil

Nesta sexta-feira (23) a Finlândia – país que atualmente está na presidência rotativa do União Europeia – propôs que aos países integrantes do bloco econômico europeu que avaliem a possibilidade de banir a importação de carne bovina do Brasil em virtude da devastação causada na Amazônia.

“O ministro das Finanças, Mika Lintila, condena a destruição da Floresta Amazônica e sugere que a União Europeia e a Finlândia devam considerar urgentemente a possibilidade de banir a importação de carne bovina brasileira”, informou o Ministério das Finanças em um comunicado.

A exportação de carne bovina brasileira para o bloco europeu e 2018 foi de 544,3 milhões de dólares em 2018, segundo dados do Ministério da Economia. “Muito além da imagem do Brasil estar fragilizada no exterior, o agronegócio brasileiro poderá ser muito afetado se não houver um posicionamento eficaz e ágil do governo brasileiro”, pondera Carlo Barbieri.

Fuga de capital estrangeiro

O analista aponta que o Brasil estava em um momento econômico frágil e que pode ser potencializado com as notícias recentes da Amazônia. “As queimadas e a demora para o governo assumir medidas de controle podem piorar ainda mais o quadro para recebimento de recursos que o Brasil precisa para se desenvolver”, afirma.

Somente em agosto deste ano o Brasil perdeu R$9,6 bilhões em capital estrangeiro na Bolsa de Valores. De janeiro a agosto de 2019, o total foi de menos R$20 bilhões de reais de capital estrangeiro, totalmente em fuga do país. Carlo Barbieri explica que diversos movimentos precisam ser observados para que não se percam investimentos importantes ao Brasil.

“As dificuldades de aprovar as mudanças na legislação da previdência, a previsão de que uma aprovação de reforma tributária será ainda mais difícil e o projeto antioperação lava-jato aprovado em tempo recorde tem desestimulado os investimentos estrangeiros. Eles estão vendo o Supremo Tribunal Federal brasileiro assumir as funções do legislativo e, pior chamar para si as funções de investigação, julgamento e punição de temas de interesse, difíceis de explicar, de seus membros”, pondera o economista e analista político.

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